Você já deve ter visto painéis solares instaladas em telhados de residências e comércios na sua cidade. Mas não estamos falando daquelas usadas para aquecimento de água, e sim das que são utilizadas para gerar energia elétrica. Estes painéis são a peça-chave de uma verdadeira revolução que está se desenhando no país, e nos próximos anos eles estarão presentes na vida de boa parte dos brasileiros.
Em 2012 a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) publicou a Resolução Normativa (REN) n° 482, que deu início à Geração Distribuída (GD) no Brasil. A partir de então, consumidores de eletricidade passaram a poder gerar energia, e utilizá-la para reduzir seu consumo proveniente da distribuidora local. Este ano as possibilidades de utilização da GD foram ampliadas pela ANEEL para alavancar ainda mais seu desenvolvimento no Brasil.
Geração Distribuída x Geração Centralizada
O conceito de GD é o oposto do modelo tradicional aplicado no Brasil, de Geração Centralizada (GC), no qual uma quantidade relativamente pequena de usinas de grande porte gera energia para todo o país. As usinas hidrelétricas, como as de Itaipu, Belo Monte, Tucuruí e Paulo Afonso IV, fornecem atualmente 61,3% de toda a eletricidade consumida. Em segundo lugar, os combustíveis fósseis respondem por 17,1% (ANEEL, 2016).
A GD, por sua vez, ocorre quando vários pequenos geradores de energia se conectam à rede de distribuição e exportam a sua produção, parcial ou totalmente, para ser usada por outros consumidores naquele instante. Esta energia exportada é contabilizada e “vendida” para a distribuidora. Existem diversas tecnologias disponíveis para GD de baixa potência, que são as encontradas em residências, tais como turbinas eólicas, biomassa, biogás e pequenas hidrelétricas, mas a predominante é a solar fotovoltaica.
Como funciona a Geração Distribuída?
Apesar de estar sendo regulamentada apenas recentemente em nosso país, a GD não é novidade em outras partes do mundo. Na Alemanha, por exemplo, foi lançado no ano 2000 um plano de expansão da participação de energias renováveis na matriz energética do país. E um dos pilares deste plano é estimular a GD. Na época, para atrair os consumidores a aderirem, o governo alemão instituiu o sistema chamado de feed-in tariff, ou “tarifa de fornecimento”, em que os pequenos geradores vendiam a energia para a distribuidora pelo dobro da tarifa de consumo. Progressivamente, ao longo dos anos, a proporção entre as tarifas de fornecimento e de consumo foi diminuindo, e atualmente, elas tem o mesmo valor.
Esta evolução progressiva recaiu no outro sistema de tarifação, conhecido por net metering, ou “medição líquida”, que é o sistema escolhido pela ANEEL com a REN 482/2012, sob a nomenclatura de “sistema de compensação de energia elétrica”. A energia exportada pelo pequeno gerador para a rede da distribuidora é contabilizada mensalmente, e descontada da energia consumida no mesmo período.
De maneira resumida, quando a quantidade de energia exportada é menor que a consumida, o resultado é uma redução no valor da conta de luz. Caso contrário, o excedente exportado se transforma em créditos de energia, que podem ser utilizados em meses subsequentes por aquela mesma Unidade Consumidora (UC), ou ainda repassados a outras UCs, desde que sejam respeitadas algumas condições. Seja qual for o cenário, a GD representa claras vantagens econômicas para os consumidores. Adquirindo um sistema de GD para sua residência ou comércio, o consumidor passa a ficar praticamente imune aos aumentos das tarifas de energia.
O futuro da GD no Brasil
Dentre as tecnologias aplicáveis à GD, a mais atrativa é, sem dúvida, a solar fotovoltaica. Segundo a ANEEL, dos 6017 sistemas de GD instalados no Brasil até o fim de Outubro/2016, 98,5% são fotovoltaicos. A abundância do recurso solar, o aumento constante da eficiência dos equipamentos de geração, a progressiva redução no preço de instalação e o baixo custo de operação e manutenção são apenas alguns dos motivos que estão levando à rápida expansão desta tecnologia no mundo todo, e no Brasil não é diferente. Outro ponto forte desta tecnologia é o baixíssimo impacto ambiental, uma vez que os sistemas fotovoltaicos não geram emissões gasosas nem ruídos.
A ANEEL calcula que até 2024 o número de UCs brasileiras dotadas de sistemas de GD salte dos atuais 6 mil para 1,2 milhão. É um aumento de duzentas vezes em apenas oito anos. Seria o equivalente a, começando hoje, instalarmos a cada mês mais que o dobro do que temos atualmente. Os números são impressionantes, e mostram que este mercado está apenas no início da sua caminhada.