A Geração Distribuída (GD) está começando a decolar no Brasil. Segundo informações da ANEEL, já são mais de 7 mil consumidores gerando sua própria energia, um número que mais que quadruplicou desde o início do ano. Mas será que vale mesmo a pena ter um sistema desses em sua casa ou na sua empresa?
Das fontes de energia atualmente utilizadas para GD, nos moldes da Resolução Normativa 482 da ANEEL, a solar fotovoltaica responde por mais de 98% das instalações no Brasil. Por esta razão, é nela que iremos basear nossos comentários a partir daqui.
Quanto custa?
À primeira vista, o valor do investimento para instalação de um sistema fotovoltaico pode assustar qualquer um disposto a se reduzir o quanto puder a sua dependência da sua distribuidora de energia, ou seja, reduzir ao mínimo a sua conta de luz. Infelizmente não é possível dizer um preço para o sistema completamente instalado, sem antes avaliar uma série de parâmetros de dimensionamento para cada caso, tais como: perfil de consumo de energia, níveis de irradiação solar, orientação e inclinação do telhado, e área disponível para os módulos fotovoltaicos, para citar apenas alguns aspectos.
Mas o importante é ter em mente que trata-se de um investimento com retorno de médio a longo prazo. A depender de diversos fatores, é possível estimar o chamado payback do sistema. De maneira simplificada, o payback nada mais é do que o tempo necessário para que o somatório das economias na conta de luz, geradas pelo sistema fotovoltaico, demoram para acumular o valor investido inicialmente. Análises simples levam em conta basicamente a produtividade do sistema (quanta energia o sistema gera a partir da irradiação disponível naquela localidade), a potência instalada (quanta energia o sistema pode gerar num determinado intervalo de tempo), e a tarifa de energia praticada pela distribuidora. Por outro lado, estudos mais detalhados devem levar em conta outros aspectos, tais como a inflação da tarifa de energia, custos de manutenção e operação do sistema, incidência ou não de tributos sobre a energia exportada para a rede, juros do financiamento do sistema, e até indicadores financeiros, como taxa mínima de atratividade (TMA).
Um estudo publicado em Agosto de 2016 pela Comerc Energia, empresa do ramo energético do Brasil, estimou o payback de um sistema fotovoltaico em GD para as capitais brasileiras. Belém (PA), Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE) e Goiânia (GO) são as cinco melhores, apresentando payback entre 5,17 e 5,5 anos. No fim da lista estão Boa Vista (RR), São Paulo (SP) e Macapá (AP), com 8,48, 8,95 e 10,80 anos, respectivamente.
Importante ressaltar, a vida útil de um sistema fotovoltaico é da ordem de 25 a 30 anos. Depois do período de payback a economia de energia proporcionada pelo sistema fotovoltaico é lucro livre para o consumidor. Portanto, mesmo levando quase 11 anos para “se pagar”, um sistema fotovoltaico em Macapá vai gerar energia, de graça, por muito mais tempo!
O payback é um dos principais indicadores analisados pelos consumidores na hora de decidir pela compra de um sistema fotovoltaico. No entanto, outros aspectos também influenciam. Muitos consumidores, preocupados com as questões climáticas, instalam sistemas fotovoltaicos em suas residências para contribuir com a redução da utilização de combustíveis fósseis pela humanidade. No caso de empresas esta iniciativa também pode ser associada a uma estratégia de marketing verde, indicando que seus produtos são feitos com energia limpa. Na média, pode-se considerar um período de 8 anos, mas que pode chegar a apenas 5 anos. Depois desse período, a economia na conta de luz é lucro livre para o consumidor. Levando em conta que a vida útil de um sistema desses gira em torno de 25 anos, são em média 17 anos de energia gratuita.
Impostos
Na sua conta de luz, boa parte do valor que você paga é repassada na forma de impostos aos governos Federal (PIS/COFINS), Estadual (ICMS) e Municipal (Iluminação Pública). A maior parcela é referente ao ICMS, que, na maioria dos estados é cobrado somente sobre a energia consumida. Entretanto, SC, PR, AM, AP e ES ainda não aderiram à recomendação do Conselho Nacional de Política Fazendária expedida em abril de 2015 (Convênio ICMS 16), e ainda cobram ICMS sobre a energia que o seu sistema de GD exporta para a rede da concessionária.
Fica claro que na imensa maioria das localidades brasileiras é mais rentável ter um sistema fotovoltaico gerando energia para o consumidor, do que depender completamente do fornecimento da distribuidora.
O Brasil possui um potencial de irradiação solar de dar inveja. Na Alemanha, por exemplo, que possui a maior potência fotovoltaica do mundo, a melhor localidade em termos de recurso solar tem menos potencial do que a pior localidade no Brasil.
Nosso país é fortemente dependente de usinas hidrelétricas, fato que, aliado aos baixos níveis de seus reservatórios, devido às secas frequentes, fazem com que as tarifas de energia praticadas pelas distribuidoras sejam muito altas. Mais ainda, fazem com que a inflação energética seja também muito alta. Um sistema fotovoltaico em GD, além de contribuir para a saúde da rede elétrica, de certa maneira “congela” a tarifa de energia do consumidor, na medida em que o livra destes aumentos.
Para possibilitar que cada vez mais consumidores decidam instalar um sistema fotovoltaico em suas residências, é preciso haver estímulos, principalmente por parte do governo, através de incentivos fiscais, criação de linhas de crédito, e permissão para uso do FGTS para aquisição de sistemas de GD, por exemplo.
Esperamos que os próximos meses tragam sinais de recuperação da economia do país, e que estes incentivos venham cada vez mais fortes.